Dia do Veterinário

Dia do Veterinário
09 de Setembro

28 de out. de 2010

SIPHONAPTERAS

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO
INSTITUTO DE VETERINÁRIA
DEPARTAMENTO DE PARASITOLOGIA ANIMAL
IV- 403 ZOOLOGIA APLICADA

Ordem Siphonaptera: as pulgas

            Os sifonápteros, conhecidos vulgarmente como pulgas, são insetos que pertencem a Ordem Siphonaptera (Siphon=sifão, a=ausência, pteros=asas). São holometábolos, ectoparasitos de carnívoros, roedores, marsupiais, aves, quirópteros e do homem. No Brasil, já foram descritas cerca de 60 espécies, estas incluídas em oito diferentes famílias. Têm importância como agentes infestantes, vetores de patógenos ou hospedeiros intermediários de endoparasitos.


1. Morfologia geral

            Apresentam coloração castanha; medem aproximadamente 2,5 a 3,0 mm, sendo que as fêmeas são maiores que os machos. São insetos ápteros, com o corpo achatado lateralmente e peças bucais do tipo picador-sugador. O corpo, coberto de cerdas voltadas para trás, e dividido em cabeça, tórax (pronoto, mesonoto e metanoto) e abdome (tergitos e esternitos).
Cabeça: Fronte ou clípeo (parte anterior da cabeça); esta pode estar pela sutura antenal do occiput ou occipício (parte posterior da cabeça); Falx (vestígio da sutura antenal presente em várias espécies); O aparelho bucal é constituído por um par de palpos labiais (2 a 17 artículos), um par de palpos maxilares (4 artículos), um par de lacínias (simples ou serrilhadas), um par de maxilas e o labro-epifarnige. Gena (parte inferior da cabeça) pode ou não estar provida de ctenídeos. Possuem um par de antenas; a antena é composta por três segmentos: 1º segmento, 2º segmento e clava. Olhos presentes ou ausentes (às vezes mancha ocular).
Tórax: Por serem achatadas lateralmente apresentam as pleuras bem desenvolvidas. Proesterno. Mesoesterno. Metaesterno. Ctenídeos presentes ou ausentes no pronoto. Mesopleura simples ou dividida (sutura mesopleural) em mesepisterno e mesepímero. Metapleura dividida em metepisterno e metepímero. Possuem um par de patas especializado para o salto (proteína resilina).
Abdome: 10 segmentos abdominais; esternito I e tergito I cobertos pelo metepímero; último segmento abdominal modificado. Os machos possuem uma estrutura denominada aedeagus, que corresponde ao pênis, e as fêmeas possume a espermateca.


Figura 1. Morfologia geral das pulgas.

2. Biologia

            Seu ciclo de vida leva de 25 a 30 dias, passando pelas fases de ovo, 3 ínstares larvares (2 ínstares larvares para Tunga, cujo ciclo leva de 17 a 25 dias), pré-pupa, pupa e adultos. Os ovos são esbranquiçados, ovóides ou elipsoidais, medindo em média 500 µm. As larvas são eucéfalas, esbranquiçadas e ápodas; possuem aparelho bucal do tipo mastigador, têm geotropismo positivo e fototropismo negativo. Os adultos são hematófagos obrigatórios e as larvas são mastigadoras; estas se alimentam de fezes de pulgas adultas e resíduos de matéria orgânica. Iniciado o hematofagismo, em 48 horas, as fêmeas aumentam 140% e os machos 19%. A cópula é realizada com a fêmea cavalgando o macho; esta é direcionada pelo sensilium. O acasalamento pode durar de oito a 32 horas.
            Em relação a proporção macho e fêmea, há uma variação entre as espécies. Para a pulga do gato, Ctenocephalides felis, a proporção é de um macho para quatro fêmeas (1:4), para Xenopsylla  e Pulex é  de uma macho para uma fêmea (1:1).
            Em laboratório, o ciclo de Ctenocephalides felis felis (ovo a adulto) leva em torno de 15 dias, com temperatura e umidade relativa controladas.
            A longevidade é variável por espécies e condições climáticas.

Figura 2. Ciclo de Ctenocephalides felis.


3. Famílias

            No Brasil, já foram assinaladas espécies de oito famílias diferentes: Pulicidae, Leptopsyllidae, Ceratophyllidae, Ischnopsyllidae, Stephanocircidae, Ctenophtalmidae, Tungidae e Rhopalopsyllidae.

3.1. Pulicidae

Características: Presença de cerdas espiniformes, sensilium com 14 tricobótrias de cada lado, cerda antepigidial (ou ante-sensiliais) e fêmeas com estilete anal.

Inclui quatro subfamílias: Pulicinae, Xenopsyllinae, Archaeopsyllinae e Spylopsyllinae.

Pulicinae: ctenídeos ausentes e sem sutura mesopleural
            Pulex irritans- parasito de roedores, cães e do homem
Xenopsyllinae: ctenídeos ausentes e com sutura mesopleural
            Xenopsylla brasiliensis­ – parasito de roedores e do homem
            X. cheopis– parasito de roedores e do homem
Archaeopsyllinae: ctenídeos genal e pronotal presentes
                        Ctenocephalides felis – parasito de cães e gatos, podendo parasitar também roedores, marsupiais, veados, ouriços, eqüídeos, ruminantes, entre outros.
                        C.canis – parasito de cães

3.2. Tungidae

Características: Ausência de ctenídeos, olho reduzido ou ausente, peças bucais desenvolvidas, tórax comprimido (fusionado), coxa posterior sem cerdas espiniformes, fratura da mexocoxa completa, sensilium com 8 tricobótrias de cada lado, cerdas ante-sensiliais ausentes e fêmeas sem estilete anal.
Inclui duas subfamílias: Tunginae e Hectopsylline.

Hectopsyllinae: as fêmeas são semi-penetrantes; os espiráculos dos segmentos abdominais II-VII são do mesmo tamanho
            Hectopsylla psittaci­
Tunginae: as fêmeas são penetrantes; os espiraculos abdominais II-IV são diminutos ou rudimentares e do V-VIII são bem desenvolvidos.
            Tunga penetrans – olho pigmentado, tórax comprimido; vulgarmente conhecida como bicho-de-pé. Parasito de cães, suínos e do homem, também já foi descrito parasitando cavalos na Região do Pantanal; situam-se nos pés, mãos e cotovelos no homem, e nos animais as patas principalmente.


3.3. Rhopalopsyllidae

            Características: Possuem 2 fileiras de cerdas no tórax e no abdome, e 3 fileiras de cerdas na região posterior da cabeça (occiput); tarsos trapezoidais e cilíndricos; presença de furca metesternal; mancha escamiforme; tíbia com 6, 7 ou mais entalhes
            Inclui duas subfamílias: Parapsyllinae (ainda não existem relatos no Brasil) e Rhopalopsyllinae.
            Rhopalopsyllinae: clava da antena assimétrica, ausência de cerdas espiniformes na face interna da coxa posterior, genitália dos machos característica
Polygenis – parasito de roedores, marsupiais e edentatos
                       
4. Importância

As pulgas como agentes infestantes tem ação irritativa, devido ao prurido provocado, tem ação expoliadora devido ao hematofagismo, e ação inflamatória, relacionada à tungíase.
Com relação à tungíase, somente a fêmea de Tunga é penetrante; após penetrar à medida que se alimenta, o volume do seu corpo aumenta, gerando uma estrutura morfologicamente hipertrofiada ao redor do seu corpo, denominada nesoma. Pode provocar dificuldades de locomoção e postura dos hospedeiros, necrose óssea e tendinosa, e até perda dos dedos do pé, seguida ou não por infecções bacterianas por Clostridium tetani (tétano), C. perfringens (gangrena gasosa) e Paracoccodioses brasiliensis (blastomicose).
Do ponto de vista epidemiológico, o gênero Xenopsylla é o mais importante; é vetora do bacilo da peste Yersinia pestis. Hoje, devido ao crescimento das áreas urbanas em direção a área de mata, deve-se dar atenção aos ropalopsilíneos, parasitos de roedores e mantenedores da peste silvestre. A pulga Xenopsylla também está relacionada com a transmissão do tifo murino (Rickettsia typhi).
            A pulga do gato, Ctenocephalides felis felis, é hospedeiro intermediário do cestóide parasito de cães e gatos Dipylidium canimum, do filarídeo parasito de cães Dipetalonema reconditum, vetora da rickettsiose felina (Rickettsia felis) e da doença da arranhadura do gato (Bartonella henseale); mais recentemente foi descrito seu envolvimento na transmissão do vírus da leucemia felina. Também está relacionada a dermatite alérgica a picada de pulga (DAPP) em cães e gatos, provocada pela ação da saliva, que contém substâncias alergênicas.
            A pulga P. irritans é hospedeira intermediária dos cestóides Hymenolepis diminuta e H. nana.

5. Bibliografia consultada

Carrera, M. Insetos de interesse médico e veterinário. Editora UFPR/ CNPq, Curitiba, 228 p., 1991.
Costa Lima, A. Capítulo XXV - Suctoria, p. 17-71. In: Insetos do Brasil – 4º tomo. Escola Nacional de Agronomia, série didática nº 5, 141 p., 1943.
Guimarães, J. H.; Tucci, E.C., Barros, D.M. Ectoparasitos de importância veterinária, Editora Plêidade/Fapesp218 p., 2001.
Linardi, P. M.; Guimarães, L.R. Sifonápteros do Brasil. Editora MZUSP/FAPESP, São Paulo, 291 p., 2000.
MARCONDES , C. B. Entomologia médica e veterinária. Editora Atheneu, São Paulo, 432 p., 2001.
SERRA-FREIRE, N. M.; MELLO, R. P. Entomologia e Acarologia na Medicina Veterinária. Editora L.F. Livros de Veterinária, Rio de Janeiro, 199 p., 2006.

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